4 anos
Nada? Nada! Nada!*
Em primeiro lugar devo dizer que as imagens aqui reunidas, ao contrário do que a etiqueta possa indicar, não constituem - nem se pretende que constituam - uma exposição. Hoje, mais do que em qualquer outro momento, é premente assinalar que uma exposição online, composta por representações de trabalhos físicos, não é uma exposição. E que as imagens vistas num ecrã excluem à partida o corpo e os sentidos do jogo de percepção que, entre outras coisas, permite a construção de significados. Daí, este projeto anseia ser pouco mais do que nada. Felizmente. Aliás, do vazio – da suspensão do mundo – que hoje experimentamos, surgirão certamente ideias e acções capazes de mudar a relação da arte com os artistas, com o público e consigo mesma. Tal como aconteceu com Dada, que nasceu num momento pós-guerra, durante uma pandemia, e que defendia precisamente o nada. Dada via na destruição a única possibilidade para abalar (de preferência devastar) as estruturas e linguagens dominantes e estagnadas. Dada - balbuceio infantil – afirmou-se sinónimo de energia contagiante, de vida. Sem agendas políticas, estéticas ou conceptuais unânimes – os seus membros raramente se entenderam quanto a elas –, foi através da sua atitude, provocadora e de confronto, que manifestou a capacidade transformadora. Dada vai cumprindo 100 anos e os seus desígnios são hoje estranhamente pertinentes. *Jacques-Émile Blanche, em La Revue de Paris, Maio de 2020.
Comentários